domingo, 3 de abril de 2011

O PAPEL DA ARTE E DA CULTURA NA ESCOLA E NO DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL


No dia 19 de outubro, educadores das redes de ensino realizaram em Glória do Goitá, um encontro sobre a Arte e a Cultura na Escola. Eventos desse vão multiplicar-se nos outros municípios e depois haverá um a nível microrregional. A reflexão que apresentamos nesse encontro, vale ser partilhada, conforme sugestão dos presentes.
Um mergulho na etimologia 
Se vamos a origem de certas palavras, podemos encontrar o sentido original das mesmas que podem ajudar nossas reflexões. A palavra latina COR eqüivale em português a CORAÇÃO. Fazer algo DE COR é fazer de CORAÇÃO, com o coração, com sentimento, carinho e afeto. DE + COR+AR = decorar é preparar um ambiente com o coração, arrumá-lo de tal forma, que agrade as pessoas que nesse ambiente vão encontrar-se, preparar de tal forma que as pessoas sintam-se bem e percebam os sentimentos do coração. DE + COR + AÇÃO = decoração é uma ação que se faz de coração, com o coração, com prazer e satisfação. O objetivo da decoração é a satisfação, o bem estar de quem vai freqüentar um ambiente. 
APRENDER DE COR é aprender com o coração, com paixão, com sentimento, com ternura, com emoção, com gosto, com carinho. Esse é o sentido original do termo. O que fez nossa tradição escolar racionalista? Deturpou completamente o sentido original da palavra, achou pouco, criou um outro termo com sentido ainda mais pejorativo – DECOREBA. Decorar passou a significar memorizar as informações para um teste, uma prova, uma aula. Algo que as pessoas fazem de forma mecânica, racional, sem cor, sem cheiro, sem sentimento. Os resultados foram graves. Com o domínio absoluto do racional, as emoções, os sentimentos, a arte, o belo, o carinho, ficaram fora de nossas escolas, da nossa educação. 
Podemos perguntar aonde esconderam todas as dimensões do belo, das emoções, dos sentimentos nas salas de aula em nossas escolas: que espaço tem a alegria, o coração, a emoção, o sentimento em nossas aulas? Que falta fazem? Que transformações seriam capazes de fazer em nós e nos alunos? Que clima recriariam nos nossos ambientes escolares? Que atitudes novas provocariam se o coração tivesse vez? Os gregos e latinos perceberam a importância da música, da ginástica, da criação de um clima e ambiente de+cor+ado para a aprendizagem. As religiões fizeram florescer a arte nos seus templos, para agradar aos seus fiéis. A televisão e o cinema tentam criar clima para os seus espetáculos, e a escola o que tenta? 
O papel da arte na construção da personalidade 
Uma das ações dos educadores/as de arte é trazer de volta para o ambiente e o processo educativo, o que as pessoas perderam ao longo de sua vida ou que estão presente de maneira fragilizada: a auto-estima, o amor por si, a autoconfiança, o respeito, o sentimento do belo, do agradável, do sentir-se bem consigo mesmo e com os demais. Uma observação sobre as inúmeras experiências de pessoas que reencontraram-se e recriaram sua vida depois de uma vivência artística, serve de prova do quanto a escola teria a lucrar, se levasse em conta a arte na educação. Se uma educação com arte recuperou meninos e meninas de rua, se a arte recuperou prisioneiros, drogados, desesperados, podemos imaginar o que não seria capaz de fazer com nossos alunos! 
A arte vislumbra o futuro, anuncia as possibilidades inovadoras sobre um determinado objeto ou situação. Onde pessoas comuns vêem somente pedra, pedaço de pau, lixo, tinta e cores, sons e palavras, os artistas vêem obra de arte, o belo, o agradável aos olhos e ao coração. Em outras palavras, vêem o futuro, a possibilidade de ser diferente. O artista nos ensina que a realidade e a potencialidade das coisas e das pessoas, não se esgotam naquilo que é visto, no “fenômeno” ou aparência. 
Existe outra dimensão escondida na “essência”
O desenvolvimento das pessoas, instituições só é possível se alcançamos essas dimensões que não aparecem, que estão em potencialidade, que se escondem aos olhares superficiais. O educador para o desenvolvimento é essa pessoa que revela, que aponta essas dimensões escondidas, essas potencialidades latentes nas pessoas, coisas e instituições. Nesse sentido, o educador partilha da capacidade do artista. Exemplificando melhor. A nossa região poderá desenvolver-se, tem potencialidades nem sempre expostas a vistas ou a olhares desatentos, pode vislumbrar um futuro diferente. É o que o artista faz na arte! 
A escola é tanto mais eficiente e eficaz, tanto quanto é capaz de descobrir potencialidade nos seus educandos/as e nas circunstâncias em que eles vivem. Se não descobre nada, é porque só percebe mesmo o fenômeno, o que está superficial, o repasse, as informações, as lições da aula. Descobre-se a essência, descobre as potencialidades e provoca o desenvolvimento. Podemos dizer que a arte é a grande ferramenta que abre o coração, os sentimentos e as emoções das pessoas, para aprenderem de cor, para fazerem o que só podem fazer se houver coração, se houver alegria, paixão, criatividade. Precisamos encontrar as ferramentas do desenvolvimento. 
“A arte transforma restos humanos em verdadeiros homens”. Esse é o depoimento e o testemunho de Nélisson França, artista de Glória do Goitá, sobre o que a arte fez consigo, depois de ter perdido sua auto-estima diante dos reveses da vida. Ele faz isso, com a recuperação das coisas que encontra no lixo. Onde nós enxergamos só lixo, ele enxerga potencialidade e transforma em arte. O que nós jogamos fora, ele recupera. Em linguagem religiosa, S. Paulo disse que onde abundava o pecado, superabundava a graça. Em outras palavras, aonde a pessoa não via mais chance, Deus lhe proporciona outras chances. Onde só há o trapo humano, Deus recupera com sua graça. Podemos parafrasear, dizendo que a arte nas nossas escolas transformaria nossos educandos em verdadeiros protagonistas. 
Não falamos de arte nas escolas como uma nova disciplina, e sim como um novo ambiente. O português, a matemática, a história, a geografia, precisam ser ensinadas com sentimento, com emoção, com carinho, com o COR. Os espaços e lugares pedagógicos, as oportunidades de ensino-aprendizagem são muito mais amplas.  
Proporcionar aos educandos o contato, a pesquisa da sua realidade local, das condições do seu povo e de seu município, é ampliar em muito o espaço das 4 paredes da sala de aula. É educar o olhar dos educandos, para descobrirem o que está para além das aparências. Trazer essa realidade para dentro da sala, para analisar, ser devolvida e provocar ações na comunidade, é ampliar muito mais ainda os espaços de aprendizagens.

Abdalaziz de Moura

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