segunda-feira, 18 de abril de 2011

ÍNDICE DOS TEXTOS DE ABDALAZIZ DE MOURA

Esses cem textos constituem parte da minha produção intelectual dos últimos 18 anos de minha vida. São, portanto, textos escritos depois dos 50 anos de vida. Representam síntese de vivências, práticas, experiências, pesquisas e estudos. Coloco a partir de abril desse ano (2011) a disposição do público. Estão subdivididos em 6 temáticas principais enumeradas no índice geral. A partir desse momento, quem procurar, usar e citar deverá seguir essa numeração e nomenclatura Estão disponíveis no site do Serta www.serta.org.br e no meu blog mouraserta.blogspot.com.

Os textos sofreram uma formatação nova, mas estão com os conteúdos originais. Nem sempre o índice corresponde exatamente com as mesmas palavras ao título original do texto. Pode mudar uma ou outra palavra ou no índice está o subtítulo. Em caso de citação, as pessoas devem citar o nome do arquivo do computador e não do índice, para facilitar a identificação dos mesmos. Nenhuma pessoa, exceto o autor conhece todos esses textos. Foram escritos em situações muito particulares em anos diferentes. De modo que, as pessoas mais próximas, terão sempre uma novidade ainda para ler.
O meu livro Princípios e Fundamentos da Proposta Educacional de Apoio a Educação do Campo – Peads foi escrito entre os anos da produção desses textos, portanto, alguns foram, como que, sua preparação e outros a sua seqüência. O livro foi o meu primeiro grande esforço de sistematizar a criação, o desenvolvimento e a comprovação da Peads. A leitura desses textos completará para o leitor a visão ampliada do livro e a compreensão do conjunto de meu pensamento e da Proposta de Educação do Campo, que se identifica como uma Proposta de Desenvolvimento e uma Proposta de Vida.

A numeração da nomenclatura está dos textos mais recentes para os mais antigos. A maioria está datada e situada, o leitor poderá sentir e perceber a evolução dos próprios temas. Por exemplo, há texto sobre a metodologia da Peads de 1994, como sobre os Princípios, como sobre Avaliação. Essas temáticas foram evoluindo até os textos mais recentes. O leitor pode ler qualquer texto independente de outro, ou seja, todos são autônomos, pode iniciar a leitura em qualquer das partes. Por seu interesse do momento e depois ir ampliando para outros textos e outras temáticas, onde uma ajuda a explicitar as demais.

Os Textos Escritos sobre Filosofia, num total de 22 são os que trazem reflexão sobre as questões ligadas aos Princípios, Fundamentos, Valores que baseiam e inspiram a ação do Serta e do autor. “As Fontes onde o Serta bebe água”. Nessa seleção inicial há textos de 1995 até 2007. A filosofia é o grande diferencial da Peads – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável. O leitor tem acesso às Concepções Filosóficas sobre Pessoa, História, Natureza, Desenvolvimento, Arte, Currículo, Ética e Educação. Inúmeros autores, correntes e escolas contribuíram para essa síntese, resultado da interação do autor dos textos com eles.

A segunda coletânea é sobre a Pesquisa, enquanto meio, instrumento de construção de conhecimento. O Serta trouxe para os alunos de todas as modalidades a chance de trabalhar esse instrumento privilegiado usado tradicionalmente na pós-graduação, mestrado e doutorado. Daí a linguagem simples, para traduzir para alunos e familiares o que antes era privilégio de poucos. Falar em pesquisa virou lugar comum para os alunos das escolas que usam a Peads. Com exceção de um “O que Eu Fiz com a Pesquisa e o que a Pesquisa Fez Comigo”, os demais são textos curtos e de linguagem simples.

Os Textos sobre a História da Peads e do Serta ajudam entender as demais temáticas, Filosofia, Didática, Fichas Pedagógicas e Oficinas. Eles representam o contexto da história vivenciada pelo autor e outros personagens, sobretudo, os co-autores da Peads. São 22 textos de 1992 a 2010. Estão incluídos desde relatórios a relatos históricos. Foram selecionados porque cada um revela um ou mais aspectos da construção da Peads. Se alguém quiser escrever e estudar a Educação do Campo encontrará documentos originais e únicos sobre o tema.

Os Textos sobre a Didática, em número de 24, vão de 1994 a 2010. Vão ajudar a compreensão de uma realidade que o autor sempre fez questão de frisar, de distinguir Metodologia de Didática, onde a primeira liga-se a filosofia e a segunda à ciência. Inúmeras são e poderão ainda ser a Didática, entendida como forma, meio de ensino e aprendizagem, disponíveis aos educadores. No entanto, a Metodologia é única, tem que ser seguida para quem quiser aplicar a Peads. Não é fechada, dialoga com diversas outras, mas tem sua identidade própria.

As Fichas Pedagógicas, como instrumento privilegiado da didática mereceram um destaque. São 11 fichas e um texto explicativo. As fichas mais antigas representam um dado histórico significativo para quem quiser compreender a Peads. Os municípios e o MOC da Bahia produziram muitas outras. As que apresento aqui foram modelos iniciais, inspiradores de muitas que se seguiram, construídas pela coordenação pedagógica dos municípios ou pelas próprias professoras em sala de aula. Na medida em que entendiam sua lógica passaram a construir. No entanto, essas deram origem às demais que se seguiram.

Por fim, outra temática tem um caráter histórico e pedagógico fundamental para quem quiser ter domínio sobre a Peads. São os relatórios sobre as Oficinas realizadas no ano de 1998 e os relatórios de 1999. São 13 relatórios de 1995 a 1999. Foi de uma época em que o Serta realizava as oficinas para sensibilizar e motivar as professoras e gestoras municipais. Não são meros relatos das oficinas. Nessa época, o autor e o colega Antônio Roberto Mendes, ajudados pelos demais da equipe, revisitavam todo o processo da oficina e destrinchavam os assuntos para que os participantes pudessem também apropriar-se de todos os conteúdos. Todos são bem anteriores às Diretrizes Operacionais de 2002 do Conselho Nacional de Educação. Tem valor histórico muito grande, pois serviram para consolidar a Peads enquanto Proposta Pedagógica assumida pelos municípios. Os relatórios de 1999 já foram relatórios apenas dos quatro primeiros municípios que fizeram essa adesão, 4 anos antes das Diretrizes Operacionais para as Escolas Básicas do Campo (3-4-2002).

É importante lembrar ao leitor que essa distribuição temática é de ordem intelectual e pedagógica, estão distintas para uni-las e interagir melhor. Na prática e nos textos, não se pode falar da Peads, sem referência a sua filosofia. Textos filosóficos são também textos didáticos e vice-versa, os relatórios das oficinas estão cheios de reflexão filosófica. O mesmo pode-se dizer das Fichas Pedagógicas e assim com os demais. A distinção e a separação dos temas são para facilitar a compreensão do leitor, porém, na realidade, esses temas se cruzam, se afinam, se relacionam e se complementam.

No meu Blog os textos novos que não fazem parte ainda dessa primeira coletânea, serão acrescentados seguindo a numeração subseqüente. Alguns textos antigos deveriam fazer parte dessa coletânea, mas não houve tempo hábil para digitalizar. Esses também poderão ser acrescentados.


1. ESCRITOS SOBRE A FILOSOFIA DA PEADS

1.1. Entendendo Melhor as Concepções Filosóficas - 2007
1.2. Impressões sobre A Conferência Internacional das Escolas Auto- sustentáveis – Paraguay – 2007
1.3. Concepção de Pessoa - 2005
1.4. Concepção de História - 2005
1.5. Concepção de Mundo e Natureza - 2005
1.6. Concepção de Currículo - 2005
1.7. Concepção de Avaliação – Resultados na Peads - 2005
1.8. Concepção de Ética na Educação - 2005
1.9. Concepção de Educação Popular e Educação do Campo - 2005
1.10. Fundamentos teórico-metodológicos das Experiências da Peads (PE) e do CAT (BA) – 2005
1.11. Concepção de Desenvolvimento – Que Diferença tem... - 2003
1.12. Concepção de Arte - 2003
1.13. Concepção sobre o Papel da Escola - 2004
1.14. Proposta Educacional das Duas Instituições MOC e SERTA – 2001
1.15. Os Princípios da Peads – Versão de 1995
1.16. Os Princípios do Serta – 1996
1.17. Explicitação dos Princípios do Serta – 1997
1.18. Aprofundamento sobre as Diretrizes do Serta – 1997
1.19. Relações entre o Técnico, o Agente de Saúde e o Professor – 1996
1.20. A Questão do Trabalho no Meio Rural – 2005
1.21. Juventude e Agroecologia
1.22. O que não Pode Deixar de Ser Considerado na Educação do Campo - 2005

2. ESCRITOS SOBRE A PESQUISA NA PEADS

2.1. O Papel da Curiosidade
2.2. A Produção de Conhecimentos
2.3. O Que Eu Fiz com a Pesquisa e a Pesquisa fez comigo
2.4. Começando pela Pesquisa
2.5. Aprendendo com a Pesquisa
2.6. A Pesquisa Realizada pelos Agentes de Desenvolvimento Local - 2003

3. ESCRITOS SOBRE A HISTÓRIA DA PEADS

3.1. O Que é o Serta e como Surgiu – 2010
3.2. Desafios para a Peads a partir de 2007
3.3. Histórico do Serta e da Peads – Introdução ao Livro “Múltiplos Olhares sobre uma Experiência Pedagógica” – 2005
3.4. Desdobramento da Ação do Serta no Sertão – 2005
3.5. Estruturação do Movimento de Educação do Campo - 2005
3.6. Significado do Prêmio Educação&Participação – Itaú/Unicef – 2003
3.7. Para Entender as Mudanças Que Acontecem no Campo – 1999
3.8. Relatório Polêmico sobre o PETI de 1997
3.9. Monografia sobre a Peads no Curso de Especialização em Educação Popular na UFPB - 1997
3.10. Histórico da Proposta de Educação Rural – 1995
3.11. Feira de Conhecimentos em Surubim – 1995
3.12. Relatório da Proposta de Educação Rural - 1994
3.13. Sugestões para um Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável – 1992
3.14. O que é o Serta e como Surgiu – para o livro Serta, uma Certa Universidade Popular
3.15. O Papel do Fundo Rotativo na Formação dos Jovens
3.16. Apresentação da Peads para as Secretárias Municipais e Udime
3.17. Desenvolvimento Territorial na Bacia do Goitá
3.18. Currículo do Serta em 2006 – Planejamento Estratégico
3.19. Situação da Educação do Campo em Surubim – 1966
3.20. Terceiro Encontro de Educação Rural - Relatório 1996
3.21. Relatório do Encontro Interestadual de Educação Rural – 1995
3.22. Relatório do encontro Intermunicipal de Educação rural - 1995


4. ESCRITOS DIDÁTICOS SOBRE A PEADS

4.1. Roteiro para a Construção do Projeto Político Pedagógico 2010
4.2. Roteiro para o Selo Unicef – Edição 2009 – 2012
4.3. Roteiro para o Selo Unicef – Edição 2007/2008
4.4. Apresentando os Instrumentos de Monitoramento - 2008
4.5. Instrumento de Monitoramento da Aplicação da Metodologia - 2008
4.6. Instrumento de Monitoramento de um Núcleo Local de Educação do Campo - 2008
4.7. Instrumento de Monitoramento da Coordenação Pedagógica - 2008
4.8. Conceito de Uma Escola de Referência Segundo a Peads - 2009
4.9. Integrando Aluno, Escola e Família - 2008
4.10. Como Funciona uma Escola de Referência Segundo a Peads - 2009
4.11. O Conceito de Protagonismo Juvenil - 2003
4.12. A Jornada Regular e a Jornada Ampliada - 2004
4.13. Roteiro para o Diagnóstico do Funcionamento do Peti - 2004
4.14. Porque e Para que o Peti - 2004
4.15. A Importância do Trabalho com as Famílias do Peti - 2004
4.16. O Papel do Registro na Formação dos Jovens – 2003
4.17. A Matemática na Peads - 1995
4.18. Os Negócios na formação dos Agentes de Desenvolvimento Local – ADL - 2001
4.19. A Produção e o Acúmulo de Conhecimentos - 1988
4.20. Característica de uma Ação Pedagógica - 1987
4.21. Conceito de Avaliação na Peads
4.22. Etapas da Peads (PER) – 1994
4.23. Quais Formas de Cooperação São Possíveis entre a Família e a Escola – 2008
4.24. Situação Desejada pelas Professoras no Monitoramento

5. FICHAS PEDAGÓGICAS DA PEADS

5.1. Ficha Pedagógica para as Séries Iniciais de um Projeto de Irrigação
5.2. Ficha Pedagógica para as Séries Finais de um Projeto de Irrigação
5.3. Ficha Pedagógica do Censo Populacional
5.4. Ficha Pedagógica do Censo Agropecuário
5.5. Ficha Pedagógica do Censo Ambiental
5.6. Sugestões para Roteiros de Fichas Pedagógicas
5.7. Ficha Pedagógica sobre a Cana-de-açúcar
5.8. Ficha Pedagógica sobre a Alimentação Escolar
5.9. Ficha Pedagógica sobre o Caju e a Castanha
5.10. Primeiras Fichas Pedagógicas para os Bimestres – 1994
5.11. Primeiras Fichas Pedagógicas para a Terceira Unidade 1, 2 – 1994
5.12. Primeiras Fichas Pedagógicas para a Terceira Unidade, 3, 4, 5 - 1994

6. RELATÓRIOS DE OFICINAS SOBRE A PEADS

6.1. Relatórios da Primeira Parte de 1999 – Consórcio dos Municípios
6.2. Relatórios da Segunda Parte de 1999 – Consórcio dos Municípios
6.3. Oficina Regional sobre a Cana-de-Açúcar - 1998
6.4. Oficina Regional sobre a Merenda Escolar – 1998
6.5. Oficina Regional sobre a Questão Rural – 1998
6.6. Oficina Regional sobre o pós 15 anos no Peti – 1998
6.7. Oficina Regional sobre o Projeto Político Pedagógico de uma Escola Rural – 1998
6.8. Oficina Local em Tamandaré – O Conhecimento do Cotidiano 1998
6.9. Oficina Local em Vicência – Concepção sobre os Programas Sociais – 1998
6.10. Oficina Local de Ribeirão – A Importância do Peti para o Conhecimento do Município – 1998
6.11. Oficinas Locais sobre a Merenda Escolar – 1998
6.12. Oficina Local em Ariquemes – Rondônia – 1998
6.13. Relatório da Formação de Professoras de Chã Grande – 1995

terça-feira, 12 de abril de 2011

PROPOSTAS DA JORNADA PEDAGÓGICA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO

JORNADA PEDAGÓGICA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
CAMPO DA SEMENTEIRA – GLÓRIA DO GOITÁ – PE
SISTEMATIZAÇÃO DAS PROPOSTAS DOS GRUPOS TEMÁTICOS

APRESENTAÇÃO
Do dia 5 a 7 de abril de 2011 estiveram reunidos na Jornada de Educação do Campo 440 pessoas, entre professores/as, coordenadores/as pedagógicas, gestores/as escolares, diretores/as de ensino, técnicos em educação. Apresentaram experiências de Educação do Campo em seis modalidades diferentes em salas temáticas, construíram propostas nessas sala e apresentaram às autoridades e a plenária. O que segue é uma síntese sistematizada dessas propostas. Da plenária saiu o encaminhamento para que essas propostas fossem também apresnaaentadas no encontro com o governador.
1. POLÍTICA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DOS EDUCADORES/AS:
• As professoras que ensinam no campo precisam e tem direito a Formação Continuada sobre a Educação do Campo;
• O curso sobre Licenciatura em Educação do Campo precisa ser ampliado para atender a mais regiões do Estado, a mais faculdades e autarquias;
• Os Conselhos Municipais de Educação, de Desenvolvimento Sustentável e instâncias semelhantes precisam verificar e cobrar os recursos destinados a formação de professores para Educação do Campo;
• Dentro das secretarias de educação criar núcleos de estudo para garantir e efetivar a formação e capacitação sobre educação do campo, núcleos que tenham tempo, condições e meios para se aprofundar na temática e monitorar o processo de formação.
• Dentro desse Núcleo de Formadores Multiplicadores haja pessoas certificadas pelo SERTA, como habilitados para fazer a formação sobre a Peads;
• A formação de Professores/as seja articulada com a estruturação de núcleos de Educação do Campo, em cada comunidade, com participação da escola, das famílias e lideranças comunitárias;
• Instituição de uma política de formação continuada em nível de aperfeiçoamento, Lato Sensu e Stricto Sensu para professores/as da Educação do campo;
• Estabelecer um processo de formação continuada para educadores que atuarão em cursos de Licenciatura em EC;
• Formação continuada a cada bimestre, levando em consideração a realidade local; associando a formação a um programa de monitoramento e acompanhamento municipal. Não adianta capacitar e largar, sem verificar os efeitos da formação em sala de aula na escola e na comuni dade;
• Garantir a Educação do Campo no Plano Municipal de Educação;

2. IMPLANTAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS:

• Contemplar Educação a Educação do Campo no Plano Municipal como política em todas as modalidades de acordo com as Diretrizes Operacionais e o decreto de 4 de novembro de 2010, e não como tangente, programa ou projeto ou experiência de apenas algumas escolas;
• Adotar a PEADS – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável como referencial metodológico para o campo e a cidade, pelo menos, das cidades que são municípios rurais de acordo com a concepção de campo presente nas diretrizes operacionais
• Os Conselhos Municipais exercerem atitudes mais proativas em relação a Educação do Campo, com fiscalização, acompanhamento e articulação com o poder público municipal e a criando de uma câmera temática no conselho para garantir essa função;
• Construção da proposta curricular da educação do campo pela secretaria de educação e escolas em todas as modalidades assumidas pelo município;
• Adequar e estruturar as escolas para atender a educação infantil de acordo com a legislação do mesmo modo que a cidade;
• Garantir que as escolas pólo de educação, que nucleou outras escolas em alguns municípios apliquem a Educação do Campo atendendo a demanda existente;
• Fazer com que a Educação do Campo não seja só uma discussão a ser feita com a Escola e Secretaria de Educação, mas também com as outras entidades ligadas ao campo, secretarias, sindicatos, conselhos, agentes de saúde etc.
• Garantir formação continuada específica para os educadores do campo;
• Sensibilização e conscientização dos gestores municipais, para:
• Garantir a preservação e manutenção das estradas para dar acesso às escolas, antes, durante e depois do período chuvoso;
• Garantir o cumprimento da Legislação para a Educação do Campo( Diretrizes Operacionais de EC, Lei da Agricultura Familiar, Lei da compra direta da merenda escolar, Resolução de 2008, Decreto de 04/11/2010)
• Uma Educação do Campo segundo a metodologia das PEADS minimiza o êxodo rural, mas não é suficiente para garantir a permanência do jovem no campo, para isso, se faz necessário criar estratégias amplas como assistência técnica, financeira, etc
• Criar grupos de estudos (auto-docência ), no município para elaboração de Propostas para Educação do Campo, valorizando as especificidades de cada escola;
• Garantir as condições de locomoção dos docentes para participarem de eventos, formações e intercâmbios (EC).
• Criar uma comissão de educadores para se tornarem multiplicadores;
• O SERTA providenciar junto aos órgãos de financiamento cursos de formação permanente e específica das PEADS, no mínimo de 40hs por módulos, para aprimorar a apropriaçãor desta proposta e tornar os docentes, agentes multiplicadores em seus municípios;
• Estimular a participação de profissionais de universidades com experiências para atuarem nas especializações;
• Firmar parcerias com instituições afins como RECASA, RESAB, Secretarias Estaduais e Municipais, Universidades, ONGs, etc;
• Os docentes terem a oportunidade de participarem de estudos específicos como direito e cidadania, merenda escolar, ECA, agroecologia, etc;

3. IMPLANTAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NAS ESCOLAS ESTADUAIS:

• Assegurar a continuidade nas escolas estaduais da educação do campo que foi estudada nas escolas municipais e não corta esse processo formativo que já comprovou ter resultados positivos nos alunos, nas escolas e nas comunidades;
• Onde houver duas escolas estaduais em um município, pelo menos, uma aplique a Educação do Campo, com todos os recursos pedagógicas que existir na outra escola, para não alimentar nenhum preconceito contra o campo, que a nossa cultura já alimenta;
• Onde só existir uma escola estadual no município, o que acontece em municípios muito pequenos, portanto municípios rurais, no mínimo, que se estabeleça turmas com a Educação do Campo;
• Criar parcerias entre governo estadual e governo municipal para implantação do ensino médio nas escolas do campo;
• Garantir na matriz curricular do ensino médio das escolas estaduais a educação a educação do campo;
• Implementar o ensino médio agregando o ensino profissional e não só deixar como uma questão para o Projovem ou Saberes da Terra, pois o desenvolvimento do campo hoje exige profissionalização no ensino médio e superior e não só no nível de qualificação;
• Criação de Fórum Permanente de apoio à Educação do Campo; Favorecer e qualificar a atuação do Comitê Estadual de Educação do Campo
• Participação de representação dos segmentos educacionais na construção das ações do PPA;
• Criação de órgãos fiscalizadores sobre a efetivação da educação do campo;

4. MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO:

• Constituição de uma equipe que atue nas secretarias, para monitoramento e avaliação da execução de políticas do Campo, nos municípios e no Estado
• Secretarias Municipais devem garantir uma coordenação permanente com perfil de educadores do campo, capacitados, para monitorar, apoiar e buscar soluções para os desafios;
• Criar equipes ou comitês com experiência e autonomia para pensar a Educação do Campo;
• Plano de monitoramento municipal contribuindo com a prática de educação do campo nas escolas (Bimestral);
• Às escolas cabe implantar seus planos de monitoramento e avaliação incluídos no plano municipal de educação, garantindo resultados;
• Garantir a atuação do conselho escolar para ajudar a fiscalização e monitoramento nas escolas;
• Parcerias entre as demais secretarias para desenvolver ações de sustentabilidade no campo.
5. INTERCÂMBIOS
• Realização de intercâmbios entre escolas, experiências e metodologias.
• Agendar anualmente jornadas e seminários para trocas de experiências em educação do campo, a nível regional, garantindo a participação dos profissionais de educação do campo nesses eventos;
• Incluir a educação do campo no PPP e Plano Municipal de Educação de cada município e garantir que esta seja efetivada;
• Fortalecimento de práticas de intercâmbio a partir das experiências vividas em cada escola-comunidade;

6. CERTIFICAÇÃO DA PEADS:
• Criação de curso com certificação na perspectiva da Peads – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável criada e sistematizada pelo Serta, num período de recesso comum entre municípios;
• Reconhecimento pela secretaria de educação das propostas encaminhadas pela Jornada Pernambucana de Educação do Campo-JOPEC em 2010.
• Criação de redes municipais, territoriais e estadual com núcleos de EC:
• Criação de uma rede virtual (blog; lista de discussão, etc), tendo como princípio norteador a Jornada de Educação do Campo, sob a revisão do SERTA.
• Eleger representantes por municípios para se aprofundarem nas propostas e estar desenvolvendo para os demais;
• Retomar as experiências nos municípios que já tiveram alguma iniciativa com a PEADS neste novo contexto dos professores fazerem sua adesão pessoal;
• O município oferecer condições de ampliar e multiplicar as formações de Educação do Campo para todos os educadores do município.
• Que o SERTA construa os níveis de apropriação da PEADS, segundo foi apresentado na Jornada e os educadores seja certificados pelo níel de apropriação que conquistarem;
• Formar parcerias com entidades para que a educação do campo se torne realidade.

7. IMPLANTAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO NAS UNIVERSIDADES E ENSINO PROFISSIONAL
• Maior participação das universidades de formação de professores nos encontros regionais e movimentos de educação do campo;
• Regularizar e implantar os cursos de graduação em educação do campo em todas as regiões;
• Garantir que os profissionais tenham qualificação para desenvolver a disciplina de educação do campo;
• Garantir a implantação do ensino médio nas escolas do campo;
• Assegurar a formação específica dos educadores das escolas segundo o decreto 7.352/2010 de 04 de novembro de 2010;
• Assegurar através das ppp das escolas técnicas estaduais o ensino voltado à educação do campo.
• Implantar nas universidades a licenciatura plena em educação do campo;
• Garantir aos educadores que já trabalham com educação do campo, formação continuada;
• Estabelecer convênios das universidades com ongs para realização de formações continuadas de professores que atuam na educação do campo;
• Que as escolas técnicas possam oferecer formação de cursos técnicos para a vivência do campo.
• Estudar os textos de Abdalaziz de Moura, criador da PEADS (no cd e blog).

8. ACERCA DO DECRETO 7.352/2010

• Levar o Decreto ao conhecimento das pessoas que fazem a gestão educacional e a toda comunidade escolar, estimulando uma leitura compreensiva;
• Fazer uma linha de base para o monitoramento do Decreto no município;
• Apresentar aos vereadores;
• Apresentar e discutir junto ao Conselho Municipal de Educação;
• Apresentar ao Conselho Municipal de Desenvolvimento;
• Estabelecer e garantir nos orçamentos, municipais, estaduais e federal recursos para a formação e monitoramento para a educação do campo.


9. EDUCAÇÃO POPULAR E ATER
• Planejar sessões periódicas de atualizações (Semestrais) com os educadores sobre a Peads nos municípios em parceria com as secretarias municipais e outros projetos de assistência técnica local.
• Estimular a capacitação e apropriação dos educadores sobre as políticas públicas para a agricultura familiar, com intuito de serem disseminadas nas escolas, comunidades rurais para favorecer a implementação e os benefícios destas políticas (Como exemplo do Programa Nacional de Alimentação Escolar e Plano de Aquisição de Alimentos).
• Os municípios deverão provocar seminários municipais de avaliação sobre os desafios e avanços das iniciativas de educação do campo local em conjunto com as escolas, famílias, agricultores, associações e conselhos locais.
• Os municípios deverão estimular a criação de núcleos de educação do campo entre famílias, professores, agricultores familiares e lideranças locais com intuito de articular as diversas atividades escolares e as iniciativas e experiências das comunidades.
• Os órgãos competentes a partir das demandas locais concretamente estabelecidas deverão provocar a ampliação dos cursos superior de educação do campo.
• Estimular o intercambio de vivências nas proximidades para trocas de saberes entre as diversas experiências de educação do campo ampliando os conhecimentos aprendidos por educadores e suas comunidades.
• Divulgação do decreto de educação do campo para o poder legislativo com participação do Ministério Público.

Glória do Goitá, 7 de abril de 2011.

PROPOSTAS DA JORNADA PEDAGÓGICA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO

Esse Blog cada vez mais será especializado em Educação do Campo. Aqui estão as propostas que foram construídas durante a última Jornada de Eduucação do Campo realizado no Serta de Glória do Goitá. Depois colocarei as propostas específicas das salas temáticas. O que segue agora foi uma síntese apresentada para o encontro do Governo de Todos em Vitória de Santo Antão hoje, dia 12 de abril de 2011

sábado, 9 de abril de 2011

O MASSACRE DOS ESTUDANTES NO RIO DE JANEIRO E A PEADS


O MASSACRE DOS ESTUDANTES NO RIO DE JANEIRO E A PEADS

Esse é o centésimo primeiro (101) texto escrito por Abdalaziz de Moura, Filósofo, Teólogo e Educador do Serta, criador da Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável - Peads

Ontem, dia 7 de abril de 2011, enquanto se encerrava a II Jornada Pedagógica de Educação do Campo, realizada no Serta, no campus de Glória do Goitá com mais de 370 professoras, coordenadoras de escola, de secretarias municipais de Educação, o país foi surpreendido com o massacre das adolescentes da Escola Municipal do Rio de Janeiro. Fato que todos pensávamos que acontecia só nos Estados Unidos, agora acontece aqui. A imprensa nacional durante todo o dia de hoje deu cobertura ao fato e tudo indica que por um bom tempo ainda ocupar-se-á desse fato. Qualquer pessoa por menor sensibilidade que tenha chocou-se com o crime e suas características.

Todas as vezes que violências acontecem nas escolas a grita das famílias, das educadoras, das autoridades é por condições de segurança nas escolas. Os parentes das vítimas reivindicam e a população faz coro por mais presença de polícia, mais câmara de filmagens, mais controle dos que entram e dos que saem. Enfim, por condições físicas das e nas escolas, por recursos que chegam de fora para as escolas, de recursos que dependem da decisão de gestores públicos, que não são os da Escola.

Seguem o mesmo padrão das carências da saúde, da pobreza, das questões sociais e financeiras: uma vez o diagnóstico feito, precisa da intervenção de quem está fora, do governo, do dinheiro, do médico, do laboratório, da assistência social e técnica. Ao diagnosticado, seja o indivíduo, seja a comunidade, seja um território resta a esperar a decisão de outros, a boa vontade de outros, superar as exigências da burocracia para receber o tratamento ou a superação do problema.

Esse texto pretende construir outra lógica, outra saída diante dos absurdos da violência, sem negar a importância desses elementos que já são reivindicados pelas vítimas e pela opinião pública. Pretende revelar outros caminhos, outras formas de superação dos problemas, outras pistas que estão ao alcance dos alunos, das educadoras, da gestão das escolas e das famílias, de quem está de dentro e envolvido. Caminhos esses que são mais estruturadores, permanentes, autônomos e dentro da governabilidade dos próprios envolvidos.

São caminhos traçados pelos mais de 370 participantes da jornada apresentados como propostas através dos relatores dos grupos de trabalho, na mesma hora em que o massacre acontecia. Vamos significar esses fatos como aprendizagem para repensar a educação, iluminados pelas luzes que a Peads acende em um momento desses. A Peads é a Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento sustentável [1] criada pelo Serta e aplicada nas escolas públicas do campo em municípios de PE, AL, PB e BA.

  1. Fazer da tragédia uma oportunidade para criar o novo

Se uma professora ou escola aplicar a Peads nas áreas metropolitanas verá logo que a violência, ou seu antídoto a paz é um tema privilegiado para se tornar objeto de pesquisa pela comunidade escolar. Pesquisa que pode ser feita junto aos próprios alunos, nas famílias, nos bairros, setores e segmentos sociais diferentes, como pode ser pesquisa bibliográfica nos livros, jornais e revistas, na TV, na internet. Inúmeros dados estatísticos apareceriam. Nenhum aluno, do ensino infantil ao universitário ficaria sem fontes de pesquisa primária e secundária.

Essa é a primeira evidência que aparece para quem aplica a metodologia. A violência seria objeto de pesquisa, portanto, de construção de conhecimento pelas diversas turmas de sala de aula. Poder-se-ia construir uma ou várias Fichas Pedagógicas[2] com o tema, tal é a quantidade de aspectos que envolve. E poderia fazer fichas para diversas modalidades (Ensino Infantil, primeiros anos do Ensino Fundamental, anos finais, Ensino Médio, Profissional, EJA, Ensino Universitário). A primeira parte é um roteiro para pesquisa, a exemplo de perguntas quantitativas, que podem ser respondidas pelas famílias ou outros sujeitos sociais.

  1. Alguém em sua família já foi vítima de assalto! Quantos!
  2. Na sua rua, você conhece pessoas que já sofreram assalto! Quantas!
  3. Na sua turma (ou escola) há alunos que foram vítimas de violência familiar ou de outras formas!
  4. Na sua comunidade já aconteceu fatos de violência policial! Quantas!
  5. Você tem conhecimento de casos de violência sexual na sua comunidade ou bairro!
  6. Em sua família, alguém já deixou de fazer algo agradável e saudável com medo da violência! Quantas pessoas! Quantas vezes aconteceram!
  7. Você conhece pessoalmente pessoas que sofreram violência por conta do tráfico de drogas!

Essas perguntas são apenas uma ilustração, pode ter muito mais, podem ser mais desdobradas. Queremos dizer que assunto não falta para uma primeira abordagem do tema pelos alunos. O ideal segundo a metodologia da Peadas é que nesse primeiro momento ou primeira etapa da metodologia as perguntas sejam quantitativas, observáveis, mensuráveis. Não devem ser perguntas de opinião, de apontar causas ou conseqüências da violência. Perguntas dessa natureza serão formuladas na segunda etapa da metodologia.

As pesquisas podem ser feitas através de diversas dinâmicas ou técnicas (questionário fechado, aberto, entrevista livre, grupo focal, história de vida) e maneiras. Pode fazer uma pergunta de cada vez e trazer para a sala de aula, ou pode fazer o conjunto de perguntas e trazer as respostas do conjunto para a sala de aula. Pode fazer só nas residências dos alunos, sobretudo, na educação infantil e primeiros anos, como pode fazer numa rua inteira, ou pode fazer com um segmento específico (jovens, mulheres), ou num setor geográfico determinado.

Uma vez os alunos motivados, as professoras tendo planejado, os alunos fazendo as pesquisas, os envolvidos na pesquisa começam a fazer muitas perguntas. O que a Escola pretende com essa pesquisa, com esses assuntos! Porque será que resolveu estudar essa temática para levar para a sala de aula! Os alunos também se perguntarão, como as professoras também vão estranhar esse tipo de abordagem do tema. Mas, com esse sinal a escola estará dizendo para todos que essa questão é importante e precisa ser objeto de conhecimento dos alunos e das famílias, como da ação de todos.

  1. O que fazer com os resultados da Pesquisa

Fazer pesquisa desse porte com outros atores sociais não é uma pura técnica de aprendizagem. É muito mais que uma didática. É uma filosofia. Isto é, se faz pesquisa, porque se acredita que os alunos e a comunidade são capazes de produzir conhecimento. Porque se acredita que todas as pessoas têm um conhecimento prévio, uma vivência com o problema, porque as pessoas não são tabula rasa, nem a escola tem tudo sozinha para ensinar. Porque se acredita que a escola precisa construir conhecimentos sobre a realidade. Porque se acredita que as pessoas podem transformar a realidade e para isso precisam conhecer bem, com os instrumentos adequados de produção de conhecimento.

Com as respostas dessas ou de outras perguntas, as professoras poderão desdobrar os dados através do ensino da matemática, linguagem, leitura, escrita, geografia, história, ciências sociais e naturais, cidadania e direito. Aqui caberia a formulação de novas perguntas, dessa vez, podendo conter elementos qualitativos, opiniões de autores, pesquisadores, estudiosos, como de pessoas do bairro, busca na internet, nas delegacias, e, sobretudo, dos próprios alunos que podem fazer trabalho de grupo, textos, poesias, músicas, paródias, desenhos, planilhas, gráficos e assim, ir construindo produtos de conhecimentos.

Não vou detalhar no momento, remeto aos textos do meu blog mouraserta@blogspot.com  ou do site www.serta.org.br que já contém 100 textos sobre essas questões. Esse é o centésimo primeiro. O leitor pode ler os textos sobre as Fichas Pedagógicas, mesmo sobre outras temáticas, essas fichas são ilustrativas para desenvolver outras temáticas. Há uma infinidade de sugestões de técnicas e dinâmicas para elevar o patamar da discussão com os alunos, articulando sempre com as disciplinas ensinadas na série.




  1. Culminando os conhecimentos produzidos

Estudo dentro dessa metodologia pode durar um bimestre, um semestre ou mesmo um ano, pois podem desdobrar-se em outros subtemas, como podem se distribuir por modalidades, turnos ou séries. Um grupo aprofunda a violência do crime, outro a violência doméstica, outro a violência do trânsito, outro a violência sexual, outro a violência do tráfico de drogas, outro a violência da fome, outro a violência contra a natureza e o meio ambiente e etc. Ou podem aprofundar resultados nas crianças, ou os impactos na saúde, na educação, no lazer...

Em qualquer direção, os alunos podem elevar o nível de conhecimento dos problemas identificados. O mesmo que dissemos com a primeira etapa da pesquisa, pode-se dizer com a segunda. Não se trata de uma mera didática para facilitar a aprendizagem, trata-se de uma metodologia, de uma filosofia, que considera o conhecimento como um valor a serviço das pessoas e das comunidades, que considera a aprendizagem como uma construção pessoal e ao mesmo tempo grupal e coletiva. E os alunos devem entender e comprovar essas crenças e valores.

  1. Apresentando em forma de devolução para as famílias os dados da pesquisa

Os alunos devem ter a oportunidade de comprovar para si mesmos, para suas educadoras e gestoras de suas escolas que aprenderam com essa metodologia, com essas dinâmicas. Inclusive, é oportuno que usem outras linguagens para verificar se de fato apropriaram-se dos conhecimentos, das alternativas e pistas para a solução dos problemas. Para essa tarefa a metodologia sugere que os alunos usem recursos culturais, artísticos, visuais, sonoros para apresentar às famílias e comunidade o que foram capazes de construir com as pesquisas que aplicaram.

Para esse momento, a Escola prepara uma grande assembléia, onde cada aluno compromete-se em convidar seus parentes e vizinhos para vir participar. Prepara o ambiente, o clima para acolher as pessoas, é parecido com uma Feira de Ciências, porém com outra lógica. A lógica é para o aluno mostrar o envolvimento do tema com a vida da comunidade que foi pesquisada e provocar os presentes a uma ação concreta para minimizar ou resolver os problemas, a partir dos novos conhecimentos produzidos pelos alunos, com a pesquisa feita na comunidade e o desdobramento na escola.

A lógica, portanto, é provocar uma ação grupal e coletiva frente às descobertas dos estudos. O campo nesse caso é amplo, pois pode ser uma ação dos alunos dentro da escola, pode ser uma ação fora da escola, pode ser uma ação que exija envolvimento de autoridades e serviços públicos, e daí, podem nascer iniciativas, comissões, equipes de trabalho e toda uma mobilização onde a Escola lidera, a partir do que é sua missão específica: formar as pessoas a partir da construção de conhecimentos.

Portanto, a Escola não está fazendo algo estranho à sua missão, muito pelo contrário, está aprofundando sua missão. Está ampliando em muito o que se produz em sala de aula, está valorizando seus alunos na medida em que esses se apresentam à comunidade mostrando do quanto foram capazes e provocando a uma ação da mesma diante dos problemas. Com essa provocação, a partir de um conhecimento novo que pode tornar-se além de novo inovador, parceiros de diversos segmentos vão surgir, inclusive, já no desdobramento da temática, a escola pode convidar pessoas para ir às suas salas de aula, como as salas de aula ir onde elas estão.

A professora Maria José Tavares, conhecida como Liinha, no município de Vicência – PE levou sua turma de ensino médio a visitar a cadeia local para conhecer, entrevistar os presos, documentar com fotos a visita, entrevistar o agente responsável pela guarda. O depoimento dos presos provocou nos alunos sentimentos fortíssimos que foram desdobrados em sala de aula. Outros segmentos vão ainda ser visitados, como o Ministério Público, o fórum, o juiz da comarca.  São alunos de uma escola pública estadual.

Outras professoras e turmas por conta de uma ação tão inusitada já despertam a curiosidade pelos resultados desse estudo e já querem partilhar entre si. E as pessoas e instituições que estão sabendo já querem contribuir com algo que está sendo gestado. Tudo porque a professora aprendeu e dominou essa metodologia nas escolas do campo e atualmente ensinando na cidade e em escola estadual começou a usar a mesma metodologia.

  1. E depois, o que fica...

Evidente que um processo desses que envolve tantas pessoas necessita de um momento especial para avaliar. Para a avaliação sugerimos muitas técnicas e dinâmicas que podem ser encontradas nesse mesmo blog. Cada autor, agente e ator do processo se auto-avalia fazendo sua autocrítica e faz a hétero-avaliação da participação dos demais autores. Não só os alunos são avaliados pelos seus professores, como tradicionalmente acontece, como também os professores são avaliados por eles e assim, com todos os participantes.

  1. Concluindo

Essa metodologia vem sendo desenvolvida a 19 anos por escolas do campo em PE, PB, AL e BA. Começou com alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. Mas hoje já é aplicada em todas as modalidades de ensino, inclusive no ensino superior e também na cidade. A Jornada Pedagógica realizada entre 5 e 7 de abril, dia do massacre foi uma troca de experiências entre essas modalidades e a construção de propostas para melhorar. Houve uma demanda para que essa metodologia não ficasse só no campo, mas viesse para iluminar a educação nas cidades. Talvez possa ser uma ótima oportunidade!

Gravatá – PE, 8 de abril de 2011
Abdalaziz de Moura Xavier de Moraes



[1] . Ver o livro desse mesmo autor Princípios e Fundamentos da Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável, uma Proposta que Revoluciona o Papel da Escola diante das Pessoas, da Sociedade e do Mundo. Serta, Glória do Goitá – 2003.
[2] . Ficha Pedagógica na Peads é um instrumento que as professoras constroem como itinerário pedagógico, um instrumento indicando as 4 etapas da metodologia. A primeira etapa é um roteiro de pesquisa.

domingo, 3 de abril de 2011

A QUESTAO DO TRABALHO NO CAMPO

Duas questões de fundo por trás da questão. 
Uma herança cultural do que representa o Campo no inconsciente coletivo. O papel do inconsciente nas pessoas – elementos fortes que marcaram a vida na infância e até no útero da mãe a vida das pessoas que ficam gravados nas pessoas e determinam o comportamento da gente. 
Traumas, medos, sustos, convivência feliz ou infeliz, que vivenciamos, sobretudo em períodos que a nossa consciência ainda não era bem desenvolvida a ponto de nos lembrarmos. 
Exemplo do chá na minha infância e na fase adulta. 
Todo mundo tem, pois o nosso comportamento nem sempre é determinado pelo que sabemos, nem pelo que queremos como também pela marcas que nosso organismo, nossa mente, nosso corpo registrou, gravou ao longo da nossa infância e adolescência e não percebemos nem onde, nem como ficou gravado. 
Exatamente porque não sabemos nem onde, nem como, o organismo reservou um lugar muito escondido, que só com apoio da psicanálise, da terapia, de muita reflexão conseguimos detectar. No nível da sociedade existem também marcas, traumas, momentos de dor e de felicidade que determinam comportamentos sociais, comuns a parcelas da população. Acontecimentos que vão delineando características, marcas no comportamento dos grupos humanos. Essa marcação, gravação, marca são estabelecidas através da cultura. 
As coisas acontecem, por exemplo, o trauma do 11 de setembro nos Estados Unidos com a destruição das duas torres, o caso do atentado no metrô de Londres ou os seqüestros contínuos que vem acontecendo, vão criando marcas comportamentais nas pessoas, nas famílias, nas instituições, na administração pública. Com a mídia e internet, ampliam-se a pessoas, grupos e instituições distantes dos acontecimentos. 
As pessoas passam a reforçar os cuidados com as portas, com os veículos, com os filhos. Passa a ter medo de freqüentar alguns lugares, a sair em algumas horas. No caso do Campo, na nossa história tivemos muitos traumas, o trabalho agrícola ficou por conta da escravidão sempre associado à trabalho escravo, sem remuneração digna, sem resultado gratificante, como estigma, castigo, coisa de quem não soube ler, subir na vida. A professora e a mãe, quando querem estimular o progresso do seu filho usam expressões desse tipo: Estuda menino, porque se não, tu vais ficar igual a teu pai, no cabo da enxada! 
Essa marca, esse trauma que aconteceu na nossa história deixou registro no inconsciente coletivo, quase no nosso DNA, na nossa cultura. 
A escola , fiel escudeira da cultura, veio fortalecer essas marcas, vendendo sempre a idéia para os alunos do campo que se quisessem ser felizes um dia, teriam que migrar para a cidade, para um lugar maior, senão não seriam gente! Criou e fortaleceu os preconceitos de que campo, meio rural era coisa de matuto, brocoió, pé rapado, de quem não fala bem a língua portuguesa.
Resultado é que ao longo de 40 anos de convivência com as pessoas e a vida no Campo, no litoral, zona da mata, agreste e sertão, a maior dificuldade para o trabalho no campo não tem sido a falta de terra, a falta de água, a falta de dinheiro, a falta de tecnologia e sim as marcas que ficaram na cultura nordestina, na maioria dos países latino-americanos e caribenhos, que o campo é negócio de enxada, de trabalho pesado, de atividade frustrante, coisa para pobre, para quem não pode se promover na vida. 
Superar esse trauma na família, na cabeça de um jovem e de uma jovem que nasceu e se criou no campo tem sido uma tarefa mais árdua do que conseguir terra, água, dinheiro e tecnologia. É muito importante entender isso, pois aí é que está o gargalho de muitos projetos, programas e políticas. Exemplo da minha primeira terra, do pronaf-jovem, de crédito fundiário etc. As análises da conjuntura, da situação política e econômica, das atividades técnicas também podem se equivocar. Exemplo das análises do IBGE . 
O que é urbano e o que é rural. 
Quais as previsões de cenários que foram feitas: o Campo vai desaparecer, a prioridade dos investimentos tem que ser para as cidades. Nem, merece dar tanta atenção aos problemas do campo, da terra, da água, da cultura, pois vai ficar apenas uma parcela ínfima da população morando no campo. 
Qual a repercussão de uma análise dessa na administração e na política pública, na economia, nas prioridades? Se vai desaparecer, então claro, que vamos nos ocupar do que vai ficar, permanecer, crescer, que são as cidades. Essas análises, essas categorias de pensamento também marcam o nosso país e a nossa cultura do usineiro mais bem sucedido ao agricultor mais pobre, do gestor mais bem intencionado ao perverso. Exemplo de Itapetim. 
O que o Serta tem feito para superar esses traumas e essas análises.
Já para existir na década de 80 e 90 tivemos de superar outras análises, da matriz ideológica que interpretava as mudanças sendo feitas pelo operariado urbano e a resistência a mudança sendo papel dos camponeses.

Abdalaziz de Moura

O PAPEL DA ARTE E DA CULTURA NA ESCOLA E NO DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL


No dia 19 de outubro, educadores das redes de ensino realizaram em Glória do Goitá, um encontro sobre a Arte e a Cultura na Escola. Eventos desse vão multiplicar-se nos outros municípios e depois haverá um a nível microrregional. A reflexão que apresentamos nesse encontro, vale ser partilhada, conforme sugestão dos presentes.
Um mergulho na etimologia 
Se vamos a origem de certas palavras, podemos encontrar o sentido original das mesmas que podem ajudar nossas reflexões. A palavra latina COR eqüivale em português a CORAÇÃO. Fazer algo DE COR é fazer de CORAÇÃO, com o coração, com sentimento, carinho e afeto. DE + COR+AR = decorar é preparar um ambiente com o coração, arrumá-lo de tal forma, que agrade as pessoas que nesse ambiente vão encontrar-se, preparar de tal forma que as pessoas sintam-se bem e percebam os sentimentos do coração. DE + COR + AÇÃO = decoração é uma ação que se faz de coração, com o coração, com prazer e satisfação. O objetivo da decoração é a satisfação, o bem estar de quem vai freqüentar um ambiente. 
APRENDER DE COR é aprender com o coração, com paixão, com sentimento, com ternura, com emoção, com gosto, com carinho. Esse é o sentido original do termo. O que fez nossa tradição escolar racionalista? Deturpou completamente o sentido original da palavra, achou pouco, criou um outro termo com sentido ainda mais pejorativo – DECOREBA. Decorar passou a significar memorizar as informações para um teste, uma prova, uma aula. Algo que as pessoas fazem de forma mecânica, racional, sem cor, sem cheiro, sem sentimento. Os resultados foram graves. Com o domínio absoluto do racional, as emoções, os sentimentos, a arte, o belo, o carinho, ficaram fora de nossas escolas, da nossa educação. 
Podemos perguntar aonde esconderam todas as dimensões do belo, das emoções, dos sentimentos nas salas de aula em nossas escolas: que espaço tem a alegria, o coração, a emoção, o sentimento em nossas aulas? Que falta fazem? Que transformações seriam capazes de fazer em nós e nos alunos? Que clima recriariam nos nossos ambientes escolares? Que atitudes novas provocariam se o coração tivesse vez? Os gregos e latinos perceberam a importância da música, da ginástica, da criação de um clima e ambiente de+cor+ado para a aprendizagem. As religiões fizeram florescer a arte nos seus templos, para agradar aos seus fiéis. A televisão e o cinema tentam criar clima para os seus espetáculos, e a escola o que tenta? 
O papel da arte na construção da personalidade 
Uma das ações dos educadores/as de arte é trazer de volta para o ambiente e o processo educativo, o que as pessoas perderam ao longo de sua vida ou que estão presente de maneira fragilizada: a auto-estima, o amor por si, a autoconfiança, o respeito, o sentimento do belo, do agradável, do sentir-se bem consigo mesmo e com os demais. Uma observação sobre as inúmeras experiências de pessoas que reencontraram-se e recriaram sua vida depois de uma vivência artística, serve de prova do quanto a escola teria a lucrar, se levasse em conta a arte na educação. Se uma educação com arte recuperou meninos e meninas de rua, se a arte recuperou prisioneiros, drogados, desesperados, podemos imaginar o que não seria capaz de fazer com nossos alunos! 
A arte vislumbra o futuro, anuncia as possibilidades inovadoras sobre um determinado objeto ou situação. Onde pessoas comuns vêem somente pedra, pedaço de pau, lixo, tinta e cores, sons e palavras, os artistas vêem obra de arte, o belo, o agradável aos olhos e ao coração. Em outras palavras, vêem o futuro, a possibilidade de ser diferente. O artista nos ensina que a realidade e a potencialidade das coisas e das pessoas, não se esgotam naquilo que é visto, no “fenômeno” ou aparência. 
Existe outra dimensão escondida na “essência”
O desenvolvimento das pessoas, instituições só é possível se alcançamos essas dimensões que não aparecem, que estão em potencialidade, que se escondem aos olhares superficiais. O educador para o desenvolvimento é essa pessoa que revela, que aponta essas dimensões escondidas, essas potencialidades latentes nas pessoas, coisas e instituições. Nesse sentido, o educador partilha da capacidade do artista. Exemplificando melhor. A nossa região poderá desenvolver-se, tem potencialidades nem sempre expostas a vistas ou a olhares desatentos, pode vislumbrar um futuro diferente. É o que o artista faz na arte! 
A escola é tanto mais eficiente e eficaz, tanto quanto é capaz de descobrir potencialidade nos seus educandos/as e nas circunstâncias em que eles vivem. Se não descobre nada, é porque só percebe mesmo o fenômeno, o que está superficial, o repasse, as informações, as lições da aula. Descobre-se a essência, descobre as potencialidades e provoca o desenvolvimento. Podemos dizer que a arte é a grande ferramenta que abre o coração, os sentimentos e as emoções das pessoas, para aprenderem de cor, para fazerem o que só podem fazer se houver coração, se houver alegria, paixão, criatividade. Precisamos encontrar as ferramentas do desenvolvimento. 
“A arte transforma restos humanos em verdadeiros homens”. Esse é o depoimento e o testemunho de Nélisson França, artista de Glória do Goitá, sobre o que a arte fez consigo, depois de ter perdido sua auto-estima diante dos reveses da vida. Ele faz isso, com a recuperação das coisas que encontra no lixo. Onde nós enxergamos só lixo, ele enxerga potencialidade e transforma em arte. O que nós jogamos fora, ele recupera. Em linguagem religiosa, S. Paulo disse que onde abundava o pecado, superabundava a graça. Em outras palavras, aonde a pessoa não via mais chance, Deus lhe proporciona outras chances. Onde só há o trapo humano, Deus recupera com sua graça. Podemos parafrasear, dizendo que a arte nas nossas escolas transformaria nossos educandos em verdadeiros protagonistas. 
Não falamos de arte nas escolas como uma nova disciplina, e sim como um novo ambiente. O português, a matemática, a história, a geografia, precisam ser ensinadas com sentimento, com emoção, com carinho, com o COR. Os espaços e lugares pedagógicos, as oportunidades de ensino-aprendizagem são muito mais amplas.  
Proporcionar aos educandos o contato, a pesquisa da sua realidade local, das condições do seu povo e de seu município, é ampliar em muito o espaço das 4 paredes da sala de aula. É educar o olhar dos educandos, para descobrirem o que está para além das aparências. Trazer essa realidade para dentro da sala, para analisar, ser devolvida e provocar ações na comunidade, é ampliar muito mais ainda os espaços de aprendizagens.

Abdalaziz de Moura