terça-feira, 16 de agosto de 2011

CONTRIBUIÇÕES PARA AS CONFERÊNCIAS DE JUVENTUDE - II - Profissionalização na Agricultura Familiar


Assim como faz com a Escola, o documento base trata o trabalho do jovem como emprego. “inserção ativa e digna no mundo do trabalho com mais e melhores empregos (grifo nosso)... item 27 do documento. Melhorar as condições de trabalho é arrumar emprego!

É a mentalidade comum em toda gestão pública estadual e federal de qualquer tendência partidária, da mais conservadora à mais avançada! Quando se fala de carência de mão-de-obra é na indústria, na construção civil, nos pólos industriais e serviços!

Trabalhando com jovens do campo batemos em uma tecla de que na Agricultura Familiar tem e pode ter muito mais “inserção no mercado” e que inserção não é sinônimo, nem se reduz a emprego privado ou público. Há outra forma de gerar renda e produzir riqueza além do emprego.

Assim como dizemos também que “profissionalização” não é só para a cidade, a indústria, os serviços urbanos. Não vemos a Agricultura Familiar como o “trabalho não especializado”, que qualquer um pode e tem condições de desenvolver. Isso já aconteceu, mas hoje vem mudando.

Defendemos a idéia de que para ser Agricultor Familiar precisa ser profissional, precisa estudar muito, pesquisar, empreender, superar preconceitos e desafios, conviver com a competição do mercado, identificar mercados mais favoráveis, usar informática e meios modernos de comunicação.

Historicamente, nosso país convive com a grande maioria dos agricultores familiares que são agricultores porque são herdeiros, ou seja, são filhos de agricultores, nasceram no campo e “como não aprenderam outras coisas, ficaram na agricultura”.

Esse é o entendimento cultural, o filho ou filha da família que estudou mudou de profissão, o que não estudou, ficou em casa para cuidar da terra, como seus pais fizeram!  Essa é a cultura, que está no nosso DNA social. Todos nós pensamos assim.

Mas é esse pensamento e essa realidade que queremos modificar e as Conferências de Juventude pode ser um canal para essa mudança. Queremos dizer que não poderá continuar por muito tempo esse pensamento, que esse pensamento é perverso contra a agricultura.

Essa idéia não levanta a auto-estima, a autoconfiança, a autoria do agricultor de hoje. Essa idéia compara agricultura familiar como um serviço sem exigência, sem pesquisa, sem investimento e sem profissão. Serviço que qualquer um faz, ou seja, mal pago!

Nossa convicção é outra. AF gera renda, trabalho, empreendimento e necessita de muito estudo, muita pesquisa e que essas realidades sejam apropriadas pelos próprios agricultores e agricultoras. Para isso a demanda de trabalho na AF é muito maior do que se imagina!

Explicitando mais! Quando falamos em profissionalização do campo não estamos querendo dizer que precisamos de mais agrônomos, veterinários, zootecnistas, engenheiros de pesca, florestais, de alimento. Estamos falando de outra necessidade, sem negar essa.

Essa necessidade já é percebida pelos gestores públicos. Mas estamos falando de outra necessidade ainda não percebida. A de que os agricultores familiares possam ter domínio de conhecimentos na sua área de trabalho.

Portanto, a segunda proposta para nossas conferências é que:

1.       Haja políticas públicas de profissionalização para a AF, para o Campo e não só para as profissões da cidade, da indústria, dos serviços urbanos.
2.       Essa profissionalização deve viabilizar o trabalho na própria propriedade e não se tornar empregado de outros, deve ser empreendedor.
3.       Para que as propriedades se tornem geradoras de trabalho e renda necessita de políticas públicas de apoio a AF.
4.       A formação profissional deve ter a matriz agroecológica e permacultural e não a matriz do agronegócio.

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